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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ventos do Acaso II


II

Quão plácidas são as horas que perdemos
Sentindo tocar nossa face o vento
Quando não resta nenhum pensamento
Das iludidas verdades que temos

São inúteis tantas coisas que sabemos
Se só de sabê-las já traz tormento
Portanto perdê-las é grande alento
A cada segundo em que nós vivemos

Nada mais além disso nos compete
Do que só viver por viver somente
Do resto é sentir ou viver em vão

Ventos do Acaso



I

Mestre não mais do que en vão a vida passa
Diante de nós tal qual um relâmpago
Rasgando vorazmente nosso âmago
Somente uma pequena luz escassa

Que nos importa se é fogo ou só brasa?
Se me é um rio raso ou um profundo lago?
De que me vale as coisas que me indago
Se me são todas as coisas sem graça?

De tudo que esta vida me consente
Consentindo-me tão somente em vão
Pois tudo passa sempre indiferente

Sem quaisquer dúvidas trago o destino
Em mãos, como o mais simples artesão
Que desenha o seu próprio figurino...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Buscando


Buscando

Sento-me no convés
Olho pro mar passando
Ouço o seu triste canto
Que me vai ressoando
No som destas marés
Formando doce manto.

Veja as belas gaivotas
Traçando novas rotas,
Mas continuam bailando
Sob novos horizontes
Entrelaçando os montes
Vai meu dia se findando,

Posso ver no horizonte
Este efêmero luar
Inundar minha fronte
Não tenho mais temores
Sei que já posso voar,
Provar novos amores...

Vejo o bailar das baleias
Que vão sendo embaladas
No doce som mareante
Deste mar tão gigante
E de mil e uma toadas
Enamorando as sereias

Sim, eu chorei no cais
Era hora de partir,
Mesmo já tão distante
Tu não podes me ouvir
Nem ver em meu semblante
A falta que tu faz!

Por estes loucos mares
Deixei naquele cais
A minha nau sem porto
Fazendo um traço torto
Nestes encontros casuais
Corretos ou vulgares.

Içando minhas velas
Pra fora da nostalgia
E pintar outras telas
Talvez um novo porto
Que me traga conforto,
Um pouco de harmonia.


Eu sigo navegando
E teu cais vai ficando
Preso no meu passado,
Pois, passado – presente,
É só um presente-ausente
A ser abandonado...

E mais longe eu velejo,
Olhando pro horizonte,
Já não vejo o teu cais,
Eu vou buscando os sinais
Que tinham na tua fronte.
Fonte deste desejo,

Sobejo e desmedido
De um marujo sem nau,
Mais um náufrago cego
No louco ventar do ego,
Neste mar colossal
De um coração partido.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Tábuas da vida


Tábuas da vida


É hora de preparar as velas,
Iço-as na direção do vento
Do meu coração tiro as celas
Enlaçada no meu pensamento...

Levanta a âncora! Eu ordeno!
Ó alma! Partir se faz preciso
Já não é firme o chão que piso
Ficou incerto o velho terreno,

Vinde ó alma para este veleiro!
Vem içar as velas nos mastros
Acima de nós apenas os astros
Apontam o caminho verdadeiro

Parto, pois, já me sinto morto!
O desconhecido é que me seduz
Deixo a beleza dos olhos azuis
Ancorados no meu velho porto,

Parto na alva luz da madrugada
Para não deixar qualquer vestígio
Que possa me lembrar deste exílio
De quem alheia a mim vive calada,

Rumamos para a ilha dos açores
Desbravadores por excelência
Provando uma nova existência,
De nós mesmos seremos atores,

A cada ato do destino seguiremos
Encenando a vida e outros portos,
Em capítulos retos, outros tortos
Ao passar cada um evoluiremos...

Passaremos pelas primaveras
As tardes de verão ensolaradas,
O outono de flores debruçadas,
Invernos de torpezas severas,

Estações de sabores enganosos
Ventre de correntezas efervescentes
Fazem das tuas luxurias correntes
Âncora dos teus enleios pantanosos

Mais e mais águas vêm adiante
E a nossa distância já é ínfima
Da minha essência marítima
E o ínfimo reflete no semblante,

Quem pode revelar a sua longitude
Dos seus mil eflúvios inquietos
De meus poemas livres e sonetos
Descrevendo toda a sua plenitude

Meu coração pega fogo nos seios
De uma formosa mulher praiana
Em outros mil braços ele se engana,
Após se multiplicam os anseios

Vem-me estranho contentamento,
Vou bebendo da dor de quem evita
Um sentimento que já o habita
Tal qual um dia frio e nevoento

O que estes oceanos nos reservam
Atrás das suas luzes dos arrebóis
Dispersos na imensidão dos lençóis
Das correntezas que nos embalam

Liricamente se agitam as marés
Bailando nas correntes marítimas
Então vejo as belas obras-primas
Sendo esculpidas no meu convés

O convés é o coração marinheiro
Obras-primas são as paisagens
As marcas das mais loucas viagens
Do meu espírito aventureiro...

Sem direção escrevo o destino
Nas tábuas da vida, mas a alma,
Somente perto do mar fica calma
Nele me sinto um simples menino...

domingo, 4 de setembro de 2011

Uma só vida


Uma só vida


Rema coração! Rema, rema
Pra fora destas correntezas
Dos mares das tuas incertezas
Rema, rema, este é nosso lema

Navegue pobre alma dos mares
E busque sempre a liberdade
Também é mareante a saudade
Então não te percas em bares

Veleje ó corpo incansavelmente
Lugar da sala de máquinas
Pra não te afogar nas lástimas
Da tua louca capitã a “mente”

Explore capitã os extremos
Oceanos deste imenso mundo
Do mais raso até o mais profundo,
Pois, é só uma vida que temos!

domingo, 28 de agosto de 2011

Porto inseguro


Porto inseguro



E soltei a âncora
Lancei-me no mar
Louco do futuro
Iço a vela, é hora
Sem mais demora
Hei de flutuar
No tempo inseguro..

Num porto seguro
Não vejo o farol
Pra saber voltar
Pro meu velho lar
Andei inseguro
Pelo mar escuro
Destes dias sem sol

Porto sem futuro
Caminho inseguro
Distante da frota
Nesta nova rota
Lembro do conforto
Da amada devota
Que deixei no porto

Sou filho dos mares
Sou irmão das ondas
Fazem-nos as rondas
As doces baleias
Ou seriam sereias
Seres milenares
Filhas das luas cheias

Sairei navegando
Neste mar de pranto
Longe do acalanto
Do porto seguro
Que acabei deixando
Por não ser maduro
E assim naufragando

Como um labirinto
Faço do futuro
Um porto inseguro
Nestas correntezas
De mil incertezas
Do falho instinto
De andar pelo escuro

Dos meus sentimentos
No mar do destino
Escuto o sussurro
Do vento ferino
No porto inseguro
Dos meus pensamentos...

Recolho a âncora


Recolho a âncora



Recolho a minha âncora
Solto a minha nau no mar
Navego em busca de um lar
Que há tempo ando fora...

Deixei para trás teu porto
Agora meu coração navega
Pelas brumas, vai à cega
Buscando novo conforto

Pela manhã divaga a bruma
Que são incensos seculares
É a doce magia dos ares,
Que a esta manhã perfuma...

Então a solidão de cada dia
É como o som de um vespeiro
No silêncio deste imenso veleiro
Navegando no mar da agonia...