Tábuas da vida
É hora de
preparar as velas,
Iço-as na
direção do vento
Do meu
coração tiro as celas
Enlaçada no
meu pensamento...
Levanta a
âncora! Eu ordeno!
Ó alma!
Partir se faz preciso
Já não é
firme o chão que piso
Ficou
incerto o velho terreno,
Vinde ó alma
para este veleiro!
Vem içar as
velas nos mastros
Acima de nós
apenas os astros
Apontam o
caminho verdadeiro
Parto, pois,
já me sinto morto!
O
desconhecido é que me seduz
Deixo a
beleza dos olhos azuis
Ancorados no
meu velho porto,
Parto na alva
luz da madrugada
Para não
deixar qualquer vestígio
Que possa me
lembrar deste exílio
De quem
alheia a mim vive calada,
Rumamos para
a ilha dos açores
Desbravadores
por excelência
Provando uma
nova existência,
De nós
mesmos seremos atores,
A cada ato
do destino seguiremos
Encenando a
vida e outros portos,
Em capítulos
retos, outros tortos
Ao passar
cada um evoluiremos...
Passaremos
pelas primaveras
As tardes de
verão ensolaradas,
O outono de
flores debruçadas,
Invernos de
torpezas severas,
Estações de
sabores enganosos
Ventre de
correntezas efervescentes
Fazem das
tuas luxurias correntes
Âncora dos
teus enleios pantanosos
Mais e mais
águas vêm adiante
E a nossa
distância já é ínfima
Da minha
essência marítima
E o ínfimo
reflete no semblante,
Quem pode
revelar a sua longitude
Dos seus mil
eflúvios inquietos
De meus
poemas livres e sonetos
Descrevendo
toda a sua plenitude
Meu coração
pega fogo nos seios
De uma
formosa mulher praiana
Em outros
mil braços ele se engana,
Após se
multiplicam os anseios
Vem-me
estranho contentamento,
Vou bebendo
da dor de quem evita
Um
sentimento que já o habita
Tal qual um
dia frio e nevoento
O que estes
oceanos nos reservam
Atrás das
suas luzes dos arrebóis
Dispersos na
imensidão dos lençóis
Das
correntezas que nos embalam
Liricamente
se agitam as marés
Bailando nas
correntes marítimas
Então vejo
as belas obras-primas
Sendo
esculpidas no meu convés
O convés é o
coração marinheiro
Obras-primas
são as paisagens
As marcas das
mais loucas viagens
Do meu
espírito aventureiro...
Sem direção
escrevo o destino
Nas tábuas
da vida, mas a alma,
Somente
perto do mar fica calma
Nele me
sinto um simples menino...
Adorei!
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