quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Tábuas da vida


Tábuas da vida


É hora de preparar as velas,
Iço-as na direção do vento
Do meu coração tiro as celas
Enlaçada no meu pensamento...

Levanta a âncora! Eu ordeno!
Ó alma! Partir se faz preciso
Já não é firme o chão que piso
Ficou incerto o velho terreno,

Vinde ó alma para este veleiro!
Vem içar as velas nos mastros
Acima de nós apenas os astros
Apontam o caminho verdadeiro

Parto, pois, já me sinto morto!
O desconhecido é que me seduz
Deixo a beleza dos olhos azuis
Ancorados no meu velho porto,

Parto na alva luz da madrugada
Para não deixar qualquer vestígio
Que possa me lembrar deste exílio
De quem alheia a mim vive calada,

Rumamos para a ilha dos açores
Desbravadores por excelência
Provando uma nova existência,
De nós mesmos seremos atores,

A cada ato do destino seguiremos
Encenando a vida e outros portos,
Em capítulos retos, outros tortos
Ao passar cada um evoluiremos...

Passaremos pelas primaveras
As tardes de verão ensolaradas,
O outono de flores debruçadas,
Invernos de torpezas severas,

Estações de sabores enganosos
Ventre de correntezas efervescentes
Fazem das tuas luxurias correntes
Âncora dos teus enleios pantanosos

Mais e mais águas vêm adiante
E a nossa distância já é ínfima
Da minha essência marítima
E o ínfimo reflete no semblante,

Quem pode revelar a sua longitude
Dos seus mil eflúvios inquietos
De meus poemas livres e sonetos
Descrevendo toda a sua plenitude

Meu coração pega fogo nos seios
De uma formosa mulher praiana
Em outros mil braços ele se engana,
Após se multiplicam os anseios

Vem-me estranho contentamento,
Vou bebendo da dor de quem evita
Um sentimento que já o habita
Tal qual um dia frio e nevoento

O que estes oceanos nos reservam
Atrás das suas luzes dos arrebóis
Dispersos na imensidão dos lençóis
Das correntezas que nos embalam

Liricamente se agitam as marés
Bailando nas correntes marítimas
Então vejo as belas obras-primas
Sendo esculpidas no meu convés

O convés é o coração marinheiro
Obras-primas são as paisagens
As marcas das mais loucas viagens
Do meu espírito aventureiro...

Sem direção escrevo o destino
Nas tábuas da vida, mas a alma,
Somente perto do mar fica calma
Nele me sinto um simples menino...

Um comentário:

Almas que se expressaram