Nossos
caminhos entre olhares.
Poeta,
Resolvi por em palavras o que meus-teus olhos não deixam de enxergar, o
incontido silêncio da espera alucinante por folhas voando e que ao chão elas
toquem e me toquem os pés. Delas faria um calçado desses de andar por entre
nuvens, quem sabe alcançar o pensamento teu...
Vê,
poetisa,
Brinda
o plácido vento que em seu sopro fugaz balança as folhas na incrível melodia da
primavera que se estira num silêncio trépido, sinta as tuas asas baterem calmamente
nestes dias como um acorde de uma lira que escapa das mãos que tocam aos
deuses. Faz do teu dia uma sombra reconfortante em meio às horas que se perdem
subitamente enquanto estamos a nos pensar... Súbito o tempo se esvai como uma
onda que beija a praia e volta a ser mar. Como um rio que escorre no seu ritmo, esvai-se em
cachoeiras, em calmos poços, mas está sempre adiante. Aqui pensar é como uma sombra de um dia em que
as nuvens cobrem o sol, fico a imaginá-lo como um desenho de criança num papel
qualquer, e num só palpite lançava-se nas nuvens como um sonho bom a ser
descoberto, mas agora o caminho é tortuoso, mas vê as tulipas e os lírios
silvestres, vista-te como eles na sua roupagem simples e de aromas efêmeros
como os jardins do olimpo, vê vive e sente o dia por si só e sê feliz, e a
lembrança desses dias serão a tua eternidade...
Poeta,
Tua voz me sonda e tuas palavras em pincéis molhados dão contorno e cor ao
cenário frio do inverno que finda, trazes os personagens mais simples e castos
do mundo natural que o corpo toca, mas que alma perpassa por entre cada fresta
de suspiro, posso tocar teus dedos e na leveza de minhas mãos me deixar
conduzir por estas paisagens e nelas ser pássaro amarelo cintilante, ousar
algumas piruetas e roubar uns beijo das flores e espalhar seu néctar por entre
arvoredos e estradas vazias, colocar semente entre os buracos largos, estes que
são desviados dos condutores, quem sabe assim não aproxime a pressa da beleza
tenaz. Não precisamos de tempo ou medo se temos em nós a coragem dos versos e a
imaginação dos seres pequenos e iluminados.
Poetisa,
Aqui
os pássaros cantam, brindando num cálice o êxtase das nuances deste belo dia,
as folhas bailam ao vento, como se fossem a última dança que meus pés possam
ter, é estranho pensar em tudo que nos cerca e lhe atribuir algum sentido, tudo
parece passar a esmo, alheio a nossa vontade, pois, o pensamento é como um ramo
que busca nas alturas um resquício das sombras tenras que cobriram os dias de
minha infância, aqui os ventos de Apolo são atrozes como as ondas que se
produzem em meu pensamento, mas mesmo este universo reverso me é como um
plácido campo em que caminho enquanto passam meus dias alheios ao meu desejo,
pintar, colorir, outrora tão plenos, parecem-me fugazes como se o tempo se
reduzisse a um grão de areia soando nos temporais da eternidade, mas pleno,
embora me pareça atroz, tudo ganha um sentido, no júbilo do amanhecer a sombra
de Afrodite, ao sobre o jugo de Zeus, sempre à nos lembrar de aproveitar a nossa
grandeza dentro do pouco que somos...
Sei
Poeta,
Audaciosamente te chamando de amigo íntimo que deste vôo não desejaria pousar.
Que meus-teus pés aterrissem sobre estrelas e com minhas mãos irei afagar teu
sereno rosto, sabendo, pois, que a ampulheta já foi desemborcada e teremos mais
algumas eras para escalar. Tão somente agora abro os olhos-nossos para
contemplar esse dia tão bem tecido aos sussurros teus, nas entrelinhas da voz
silente sossegaremos em tons laranja. Somos o nascer o sol.
Poetisa,
Aqui
me despeço como o sol que se despede colorindo o anoitecer, plácido é lembrar
da tua amizade, mais plácido ainda é escrever-te, é pensar em ti, meu
pensamento voa como uma brisa matinal que se estira na luz morna de uma manhã
de outono, tendo em vista que a amizade é como uma planta de folhas douradas,
que mesmo quando dispersas carregam em si o brilho da lembranças dos momentos
tidos, pois, a suavidade destas horas, nem mesmo os arbítrios dos deuses podem
nos roubar a suavidade deste laço, e ouso dizer-te que os deuses nos invejam
por esta capacidade, aqui deixo-te, como uma folha nas asas do acaso, que no
momento certo, unirá novamente nossos caminhos numa brisa plácida de uma manhã
qualquer.
Joselito de Souza Bertoglio e Bia Cunha