sábado, 26 de novembro de 2011

Lapidar-se


Lapidar-se

Quis fazer um boi de barro
Mas não fiz além de um jarro
Repartindo-se em mil cacos
Dispersos no sopro do acaso
Dos nossos velhos casos
Sempre mal resolvidos...

Sou eterno aprendiz de artesão,
Forjando sentimentos pré-moldados
Lapidando histórias imperfeitas
Transformando as linhas alheias
Num novo horizonte em comum,

Num imaginário boi de barro
Que não passou de um jarro
Abrigando um “joão-de-barro”
Um ninho composto com flores
Fragores destes loucos amores
Eternamente retrabalhados...

A quem importa agora


A quem importa agora

Aqui onde jaz a luz
Deste amanhecer
Meu peito corta
A saudade que supus
Há tempo estar morta...

O que nos importa
Agora o quanto
Estamos distantes
Se mesmo quando perto
Meus lábios jamais
Puderam lhe falar
O que precisava ser dito

Diga-me o que importa
Agora à distância?
Se eu nunca pude chegar
Chegar perto o bastante
Pra me sentir seguro e falar
Das coisas do coração
E o que se pode falar agora
Em que o único sentido
Parece não fazer sentido algum.

Há muito tempo espero
O arrebol colorido
O eclipse no olhar,
O brilho no sorriso
E o que você me permitiu
É apenas um sonho
Que nunca vem...
Quanto tempo numa vida
Curta se pode esperar?

O horizonte pra nós
É uma linha tênue,
Uma quimera
Um tempo que jamais
Encontra-se...

Você nunca deixou
Eu lhe falar,
Você nunca deixou
Eu me aproximar
Você nunca
Deixou-me saber
Você nunca quis
Que eu tivesse lá...

O que importa
Que estejamos
Distantes agora?
A quem importa
Tudo isso agora?

Você é como o sol
De um dia nublado,
Não posso te ver,
Não posso te tocar,
Apenas sei que está lá
Tão perto quanto distante
Sempre no mesmo lugar...

E quando sou noite
E me assombra a solidão
Espero que tu sejas um raio
A cortar o meu horizonte
Mas é duro o acordar
E ver que o tempo
É cada vez mais cruel
Pra quem está a esperar...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O tempo escorre

O tempo escorre

O tempo ainda escorre
Não adianta espernear,
Gritar ou se rebelar
Incauto e alheio percorre
O tempo o seu caminho
Com o nosso consenso,
Ou não continua a passar...

O tempo ainda escorre
Quando ficamos olhando
Para trás, remediando
O que não se pode remediar,
A percepção de eternidade
Apenas mais um folclore
Que ronda o pensamento

O tempo verte e a alma verve
Com ele passando nas veias
Traçando as suas teias,
Percalços e armadilhas
As quais às denominamos
Divino humano destino...
 Mas é o tal destino
O acaso engaiolado
Numa percepção humana
Uma dimensão divina
Para conjurar a dor
De se sentir abandonado...

Serenamente observa a vida
Vede que ela passa simplesmente
Com ou sem acasos, percalços,
Ou destinos desenhados,
Acasos em cima de acasos,
A eternidade é apenas
O tempo que podemos brindar...

O que está além do tempo,
Além do céu, a compreensão
Já não nos pertence,
Nos pertence é aproveitar
O hoje, o aqui agora
E gravar dentro de nós
E de quem amamos,
A eternidade das boas memórias...

sábado, 12 de novembro de 2011

Relâmpago


Relâmpago

Como uma luz que orvalha
A tarde pelo horizonte
Lentamente se espalha
Chega a noite e me traga

Há um escuro imenso
Entre nossos olhos,
Um arrebol que se apaga,

Há um abismo de palavras
Irreais que se propagam
Entre os nossos lábios

Há um imenso deserto
Entre os nossos gestos
Como se fossemos feitos
De versos impossíveis,

Como se fosse sempre
Passado o nosso tempo...
Tudo volta a ser luz,
E pela manhã se espalha...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

No descaso


No descaso

Apenas deixo tocar
A minha face o vento
Esmo como o tempo
Que só vejo passar

O sol que se desenha,
Amanhece e passa
Todo dia, mas não abrasa
A alma que se desdenha

Esmo é o tempo, o vento
A vida, o sol com sua luz,
No fim só resta a escuridão
Deste vão encantamento

O mestre do destino é o acaso
Que termina sempre no mesmo fim,
E o que restará de ti e de mim,
Mais um caso caído no descaso...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Linhas do destino


Linhas do destino

Sei quem em algum lugar dentro de mim
Vai suscitar a tua falta, ou que irá sussurrar
O vento a tua ausência em meus ouvidos...
O destino é como o sopro de uma suave ventania,
Sem percebemos tudo muda de direção
Num momento, tudo que era exato se torna vão...

De repente sou arrastado
Por caminhos que não quero trilhar
Mas é inevitável tomá-los
Como num sopro em meio ao vão
Tudo que é sólido se dissipa
Como grãos de areia na imensidão

Você percebe que não há mais volta,
Por que afinal, o destino muitas vezes
Envolve a vontade de outras pessoas

Assim com as escolhas que restam,
Resta-me apenas seguir em frente,
Mesmo que não seja o rumo que escolhi,
Mas sim o destino que tu me deste