quinta-feira, 27 de junho de 2013

Nossos caminhos entre olhares.


Nossos caminhos entre olhares.

 

Poeta,
Resolvi por em palavras o que meus-teus olhos não deixam de enxergar, o incontido silêncio da espera alucinante por folhas voando e que ao chão elas toquem e me toquem os pés. Delas faria um calçado desses de andar por entre nuvens, quem sabe alcançar o pensamento teu...

 

Vê, poetisa,
Brinda o plácido vento que em seu sopro fugaz balança as folhas na incrível melodia da primavera que se estira num silêncio trépido, sinta as tuas asas baterem calmamente nestes dias como um acorde de uma lira que escapa das mãos que tocam aos deuses. Faz do teu dia uma sombra reconfortante em meio às horas que se perdem subitamente enquanto estamos a nos pensar... Súbito o tempo se esvai como uma onda que beija a praia e volta a ser mar. Como  um rio que escorre no seu ritmo, esvai-se em cachoeiras, em calmos poços, mas está sempre adiante.  Aqui pensar é como uma sombra de um dia em que as nuvens cobrem o sol, fico a imaginá-lo como um desenho de criança num papel qualquer, e num só palpite lançava-se nas nuvens como um sonho bom a ser descoberto, mas agora o caminho é tortuoso, mas vê as tulipas e os lírios silvestres, vista-te como eles na sua roupagem simples e de aromas efêmeros como os jardins do olimpo, vê vive e sente o dia por si só e sê feliz, e a lembrança desses dias serão a tua eternidade...

 

Poeta,
Tua voz me sonda e tuas palavras em pincéis molhados dão contorno e cor ao cenário frio do inverno que finda, trazes os personagens mais simples e castos do mundo natural que o corpo toca, mas que alma perpassa por entre cada fresta de suspiro, posso tocar teus dedos e na leveza de minhas mãos me deixar conduzir por estas paisagens e nelas ser pássaro amarelo cintilante, ousar algumas piruetas e roubar uns beijo das flores e espalhar seu néctar por entre arvoredos e estradas vazias, colocar semente entre os buracos largos, estes que são desviados dos condutores, quem sabe assim não aproxime a pressa da beleza tenaz. Não precisamos de tempo ou medo se temos em nós a coragem dos versos e a imaginação dos seres pequenos e iluminados.

 

Poetisa,
Aqui os pássaros cantam, brindando num cálice o êxtase das nuances deste belo dia, as folhas bailam ao vento, como se fossem a última dança que meus pés possam ter, é estranho pensar em tudo que nos cerca e lhe atribuir algum sentido, tudo parece passar a esmo, alheio a nossa vontade, pois, o pensamento é como um ramo que busca nas alturas um resquício das sombras tenras que cobriram os dias de minha infância, aqui os ventos de Apolo são atrozes como as ondas que se produzem em meu pensamento, mas mesmo este universo reverso me é como um plácido campo em que caminho enquanto passam meus dias alheios ao meu desejo, pintar, colorir, outrora tão plenos, parecem-me fugazes como se o tempo se reduzisse a um grão de areia soando nos temporais da eternidade, mas pleno, embora me pareça atroz, tudo ganha um sentido, no júbilo do amanhecer a sombra de Afrodite, ao sobre o jugo de Zeus, sempre à nos lembrar de aproveitar a nossa grandeza dentro do pouco que somos...

 

Sei Poeta,
Audaciosamente te chamando de amigo íntimo que deste vôo não desejaria pousar. Que meus-teus pés aterrissem sobre estrelas e com minhas mãos irei afagar teu sereno rosto, sabendo, pois, que a ampulheta já foi desemborcada e teremos mais algumas eras para escalar. Tão somente agora abro os olhos-nossos para contemplar esse dia tão bem tecido aos sussurros teus, nas entrelinhas da voz silente sossegaremos em tons laranja. Somos o nascer o sol.


Poetisa,
Aqui me despeço como o sol que se despede colorindo o anoitecer, plácido é lembrar da tua amizade, mais plácido ainda é escrever-te, é pensar em ti, meu pensamento voa como uma brisa matinal que se estira na luz morna de uma manhã de outono, tendo em vista que a amizade é como uma planta de folhas douradas, que mesmo quando dispersas carregam em si o brilho da lembranças dos momentos tidos, pois, a suavidade destas horas, nem mesmo os arbítrios dos deuses podem nos roubar a suavidade deste laço, e ouso dizer-te que os deuses nos invejam por esta capacidade, aqui deixo-te, como uma folha nas asas do acaso, que no momento certo, unirá novamente nossos caminhos numa brisa plácida de uma manhã qualquer.
 
 
Joselito de Souza Bertoglio e Bia Cunha

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